Sou cidadão teresinense. Moro, vivo e trabalho em Teresina há mais de 50 anos. O meu domicílio eleitoral está aqui; aqui, pago impostos e, na medida das minhas possibilidades, tento contribuir para tornar a cidade mais agradável. Não bastasse isso, a Câmara Municipal concedeu-me um título de cidadania, que muito me honra. Estou em casa.
Como qualquer cidadão consciente do seu papel, às vezes, sou incômodo. Fiscalizo, exijo, reclamo. Com alguma frequência me perguntam: “Por que o senhor se importa com isso?”. Respondo de bate-pronto: porque esta cidade é minha. A resposta leva os mais apressados a me julgarem “pretensioso e arrogante”. Não percebem que, embutido no pronome minha, está uma declaração de bem-querer é não um desejo de posse.
Há muitas formas de se amar uma cidade; a mais cômoda delas é cantar-lhe loas ou repetir declarações do tipo: “orgulho de ser”. Nada contra os que assim procedem, mas prefiro amar a meu modo: com gestos que se traduzem em ações a serviço da coletividade.
Há muitas coisas que me desagradam em Teresina; uma delas é o caráter excessivamente novidadeiro da cidade. Tudo o que trouxer a embalagem “novo” é aceito sem questionamento, sejam os caixotes de concreto e vidro, seja a súbita “paixão” por suco de açaí. E em nome de tais “modernagens”, vão alterando costumes e desfigurando impiedosamente a cidade. O poeta Paulo Tabatinga que o diga. Com sua indefectível máquina fotográfica, movido por sua ira santa, Tabatinga fotografa,registra,mostra, denuncia. Tomam-no por louco.
O teresinense fez sua opção preferencial pelo automóvel e está pagando a fatura. A cada dia, para atender a gula dos carros, a cidade é redesenhada: rasgam-se avenidas, alargam-se ruas, mutilam-se praças… Como as calçadas da cidade são intransitáveis, praticamente não sobra espaço para os pedestres. A cidade nega aos portadores de qualquer tipo de deficiência o sagrado direito de ir e vir. Na contramão de tudo, persegue-se a “mobilidade urbana” a qualquer preço.
Não faz muito tempo, alguns “urbanistas” decidiram partir a Praça Saraiva para abrir mais um corredor destinado aos veículos na Rua São Pedro. No entender de um dos mentores do projeto, “aquela praça é morta”. Como houve grita por parte de alguns “passadistas”, o projeto foi engavetado, mas pulsa e pode ressurgir a qualquer momento. Agora, por sugestão dos lojistas do centro da cidade, pretende-se liberar o tráfego de automóveis na rua que passa em frente ao Theatro 4 de Setembro, uma proposta infame, para dizer o mínimo. O projeto de abertura da rua é a mais acintosa demonstração de desapreço à cultura de Teresina.
Como afirmei no início desta crônica, às vezes, sou incômodo. Não abro mão,por exemplo, do direito de protestar contra a ação dos que, em nome dos“negócios”, “algarismam os amanhãs”.