O senhor está me falando de corrupção na Suécia? Sim, senhor. Quer dizer que a corrupção não foi inventada por nós? Infelizmente, não. O cidadão ficou um tanto desacorçoado. Para reanimá-lo, expliquei-lhe que essa prática perniciosa tem a idade do homem. O moço me olhou com desconfiança. Resolvi derramar a sabedoria que aparento ter. Meu irmão, um dos mais antigos relatos sobre corrupção encontra-se no Livro do Gênesis. Jacó, com a cumplicidade da mãe, Rebeca, suborna o irmão Esaú com um prato de lentilhas. O moço, entre incrédulo e curioso, me pediu: Explique isso ,por favor. Tentei ser o mais conciso que pude: Esaú e Jacó, filhos de Rebeca e Isaac, eram gêmeos. Mas Esaú nasceu primeiro, logo tinha direito à progenitura. Jacó ofereceu-lhe um prato de lentilhas em troca da bênção do pai. Aproveitando-se da senectude de Isaac e instruído por Rebeca, fez-se passar pelo irmão e recebeu a bênção do velho.Para tanto, teria coberto os braços com uma pele de carneiro, já que Esaú era mais peludo que o Tony Ramos, aquele da Friboi, mas isso são detalhes que não alteram o conteúdo da linguiça,perdão, da narrativa…O certo é que o suborno se consumou e tem registro bíblico.
O cidadão, um tantinho aliviado, pilheriou: História mais cabeluda, professor… Mas esse negócio da Suécia, eu não entendi direito. Bem, um deputado sueco, Tomas Tobé, utilizou, de forma indevida, uns bônus a que tinha direito como parlamentar. Denunciado, corre o risco de perder o mandato. Diante da incredulidade do cidadão, mostrei-lhe matéria publicada na Folha de São Paulo: “O deputado Tomas Tobé usou, em benefício próprio, as milhas acumuladas no cartão que o Estado fornece a parlamentares para uso gratuito de trens e transportes públicos no país. Tobé usou os pontos de seu cartão para pagar um pacote de amendoins, uma refeição, vinho e água, além de oito bilhetes de trem para viagens de caráter pessoal. O valor total da imprudência: 10.865 coroas suecas (cerca de R$ 3,8 mil)”.
O moço leu e releu a matéria, e não se conteve: Quer dizer que o deputado sueco usou para fins indevidos as milhas acumuladas no valor de três mil e oitocentos reais? É o que afirma a matéria. O parlamentar já pediu desculpas publicamente, comprometeu-se a devolver o dinheiro, mas a mídia não aliviou e exige sua imediata cassação. Na Suécia, a questão não é o montante do dinheiro desviado, mas a conduta inadequada de um represente do povo.
O moço coçou a cabeça e afirmou: Professor, com todo respeito pelos suecos, em matéria de futebol e de corrupção, eles têm muito o que aprender conosco. Três mil e oitocentos reais era o que Eduardo Cunha ou Sérgio Cabral davam de gorjeta aos garçons que os serviam nos restaurantes de luxo de nova Iorque. Antes que eu tivesse tempo de engendrar um contra-argumento, disparou: Povinho mesquinho, o sueco!