Eu presidia a fundação Quixote e, tentando trazer palestrantes de expressão para o SALIPI, liguei para uma escritora famosa. A cidadã atendeu-me cordialmente, louvou a iniciativa, agradeceu o convite e me disse: “Vou passar para a secretária que cuida da minha agenda”. A cidadã foi curta e grossa: “Seja breve: diga do que se trata e onde se realizará”. Tentei explicar: trata-se do Salão do livro do Piauí… Nem cheguei a concluir a frase. A secretária afirmou: “O Piauí é muito longe”, e desligou.Duas semanas mais tarde a escritora estava a caminho da famosa Feira de Frankfurt,na Alemanha, logo ali depois do Atlântico. Vê-se que a distância que separa o Piauí do mundo não é física; é psicológica. Não por acaso, um dos intelectuais mais atuantes de Teresina afirmou: “Nossos produtos são bons, mas o endereço é complicado”
Algum tempo depois, recebi um convite insólito, para dizer o mínimo: o secretário de cultura da Bahia convidou-me para ser o curador da Bienal do Livro de Salvador. Fez questão de afirmar: “Quero que você dê um toque de nordestinidade à nossa bienal”. Declinei do convite, mas fui a Salvador conversar com os organizadores do evento. A empresa, ”especializada em bienais”, já tinha tudo pronto: usaria a figura do Jorge Amado apenas como decoração e o mais seria o de sempre. Todas as sugestões que apresentei foram prontamente recusadas. Lá pelas tantas, perdi a paciência e perguntei: se não precisam das minhas sugestões, o que estou fazendo aqui? A cidadã que representava a empresa limitou-se a dizer: “ Eu confio no meu taco. Já fiz bienais no Rio, em Belo Horizonte e em outras grandes cidade. Eu sou do ramo”. Perguntei-lhe: qual é o valor mínimo que sua empresa cobra para realizar uma bienal?. Sem pestanejar, respondeu: “A partir de dois milhões de reais, a gente começa a conversar”. Peguei de bate-pronto: assim é moleza. Eu queria ver a senhora realizar um salão de livros como o que fazemos no Piauí com 300 mil reais. A executiva limitou-se a dizer: “Não trabalho com pequenos eventos”. Juntei meusteréns e voltei pra chapada.
Por que estou contando isso? Para que os críticos do SALIPI tenham uma ideia das dificuldades que enfrentamos para realizar o nosso “pequeno” Salão. É curioso ouvir pessoas que nunca realizaram nada, que nem tentaram nada darem palpites de todo tipo: que autores deveriam ser convidados, que bandas deveriam encerrar a festa,etc. Ninguém diz nada sobre de onde retirar recursos para o salão “dos sonhos” de cada um.
Embora eu já não dirija a Fundação Quixote nem esteja na coordenação do evento, deixo aqui um convite: façam como o Kássio Gomes que saiu de Valença e apresentou-se aos organizadores do SALIPI assim: “Eu quero participar desta ciranda”. Começou servindo cafezinho; hoje, é o presidente da Fundação Quixote. Alguém aí se habilita?