Durante o tempo em que vivi em São Raimundo Nonato, não me lembro de ter visto nenhuma jornal. Em matéria de informação impressa, além dos escassos livros didáticos, só nos chegavam às mãos as revistas O Cruzeiro e Seleções Reader’s Digest. Como, em casa, não tínhamos assinatura de nenhuma das duas, o meu contato essas publicações era esporádico. Esporádico, mas fascinante: foi nas páginas da famosa revista de Assis Chateaubriand que tomei conhecimento da inteligência e do talento de Millôr Fernandes, Ziraldo, Borjalo, Carlos Estevão, Péricles Maranhão e outras feras do humor. Na Seleções, eu lia com enorme prazer uma coluna denominada “Meu tipo inesquecível”.
Ao chegar a Teresina (maio de 65), vi, numa banca na Praça João Luís Ferreira, um exemplar do jornal O Dia. Além do logotipo muito feio, o jornal praticamente não tinha fotos, era pouco atraente. De qualquer forma, à época, não me sobrava um centavo para comprar jornais. Eu me contentava em ler as manchetes estampadas na primeira página do periódico. Um dia, encontrei um jornal velho sobre uma mesa, e lá estava “A Bola do Dia” ( mais tarde Bola Mapil), uma sacada espertíssima do Garrincha. A partir daquele dia, sempre encontrava um jeito de ler a bola. Mais tarde, descobri a “Folha da Mãe Ana”, onde despontavam Albert Piauí, Arnaldo Albuquerque, Vilson e outros humoristas piauienses. Não seria exagero afirmar que a minha afinidade com o jornal nasceu pela via do humor.
Em meados da década de 1970, Chico Viana e Meneses y Morais se revezavam na “brincadeira” de me hostilizar nas páginas do Jornal do Coronel. Qualquer pretexto servia. De vingança, comecei a publicar arremedos de crônicas no jornal O Estado. Lá, passei a ser alvo dos “carinhos” do Pompílio Santos, que usava a tática do morde e sopra.
Maia tarde, a convite de um dos editores do jornal O Dia, passei a publicar crônicas semanais no velho jornal.Certa feita, escrevi um texto metido a engraçado sobre um político ligado ao jornal. Na manhã seguinte, devolveram-me o texto rasgado ao meio. Decidi afastar-me do jornal de uma vez por todas.
Em 2002, a querida Anucha Melo me pediu que voltasse a publicar crônicas no jornal O Dia. Por curto espaço de tempo, numa mesma página, figurávamos André Gonçalves, Rogério Newton e eu, um luxo. Os dois excelentes cronistas saíram e cá estou arengando aos domingos.
Meio que de brincadeira, costumo afirmar: enquanto existirem o refresco do Abrão, O Ensaio Vocal e o jornal O Dia, Teresina sobreviverá e nela eu estarei. Longa vida ao jornal do Coronel Miranda que, aos 65 anos de idade, continua sendo a melhor tradução da “cidade amada”.